1714 - 1770 |
"...Pela palavra “religião”, eu não me refiro a nenhum conjunto de virtudes morais, nenhum aperfeiçoamento parcial de nós mesmos, ou cumprimento formal de qualquer um de nossos deveres exteriores; mas uma aplicação da inteira e pessoal justiça de Cristo, feita pela fé em nossos corações; uma mudança completa e real de nossa natureza, moldada em nós pela invisível, mas poderosa, operação do Espírito Santo, preservada e nutrida em nossas almas pelo constante uso de todos os meios da graça, evidenciada por uma boa conduta, e produzindo os frutos do Espírito.
Essa é a verdadeira e imaculada religião, e para o aperfeiçoamento dessa boa obra em nossos corações, o eterno Filho de Deus veio ao mundo e derramou seu precioso sangue; para esse fim nós fomos criados e enviados ao mundo, e somente por causa disso é que nós podemos nos tornar filhos de Deus. Se porventura de fato julgássemos pela prática comum do mundo, pensaríamos que fomos enviados a ele sem nenhum propósito, a não ser o de cuidar e labutar pelas incertas riquezas dessa vida; mas se consultarmos as palavras da vida, elas nos informarão de que nascemos para fins mais nobres, até mesmo para sermos nascidos de novo do alto, para sermos restaurados à divina semelhança por Jesus Cristo, nosso segundo Adão, e assim sermos feitos dignos de herdar o reino dos céus. Consequentemente, existe uma obrigação posta sobre todos nós, mesmos àqueles mais ocupados, de assegurar-se desse fim; sendo uma verdade inegável, que todas as criaturas devem responder ao fim pelo qual foram criadas.
Alguns, de fato, confinam a religião ao clero, e pensam que ela pertence apenas àqueles que servem; mas que erro fatal é esse, visto que todas as pessoas são indiferentemente chamadas por Deus para o mesmo estado de santidade interior. Assim como todos nós somos corrompidos em nossa natureza, assim todos também devemos ser renovados e santificados. E embora deva ser reconhecido que o clero está sob obrigações duplicadas de ser exemplo aos crentes, na fé, no zelo, na caridade e em tudo o mais que for louvável e de boa fama, uma vez que estão mais imediatamente dedicados ao serviço de Deus; ainda, assim como todos fomos batizados com um só batismo na morte de Cristo, estamos todos sob a necessidade de executar nossa aliança batismal, e aperfeiçoar a santidade no temor a Deus; pois as Sagradas Escrituras nos indicam senão um caminho de admissão no reino de Cristo, através da porta estreita de uma sólida conversão. E aquele que não entra no curral das ovelhas, seja clérigo ou leigo, por essa porta, descobrirá, para sua eterna ruína, que não pode pular a cerca."...